domingo, fevereiro 20, 2005

No escuro

Quando adolescente adorava ficar na sala em noites claras. No escuro, tocava piano. Não era muito virtuosa, mas a platéia era eu mesma, então, tudo bem.
Hoje, escrevendo no escuro, descobri que ainda gosto muito da solidão da noite, da brisa e da temperatura amena desta hora. Gosto do silêncio, nem tão silencioso, de Porto Alegre no verão.
Vozes, grilos, carros, barulho do vento, portas e janelas que batem (aquelas de sempre) me fazem me sentir um casa. Como é bom voltar para casa.
Meu amor dorme. Quando era adolescente eram meus pais que, quando se davam conta de que eu estava sozinha no escuro na sala, ficavam preocupados com a minha solidão. Nunca entendi o motivo. Eles pensavam que eu estava triste e acho que tinham medo que eu me matasse, sei lá. Sei que acabavam com meu barato. Nem me deixar quieta no escuro, sem tocar piano, me deixavam.
Continuo gostando deste meu tempo só.
Mas hoje sinto muita falta do Mika. Se eu tivesse o cheirinho dele para cheirar, já tinha pegado no sono.